Jacques Prévert

4 de fevereiro – Nascimento de Jacques Prévert

Subversivo, surrealista, Prévert escreveu inúmeros poemas, guiões para filmes, reportagens. Adorava fazer colagens e habitar o mundo. Descobre a obra Paroles na tua biblioteca e a sua biografia aqui.

Dado que estamos em fevereiro, deixamos-te um dos seus poemas de amor mas podes descobrir aqui um poema sobre a escola (que talvez te surpreenda).

Este amor

Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Este amor
Belo como o dia
E mau como o tempo
Quando o tempo está mau
Este amor tão verdadeiro
Este amor tão belo
Tão feliz
Tão alegre
E tão irrisório 
Que treme de medo como uma criança na escuridão
E tão seguro de si mesmo
Como um homem tranquilo no mais fundo da noite
Este amor que assustava os demais
Que os fazia falar
Que os fazia empalidecer
Este amor vigiado
Porque nós o vigiávamos 
Acossado ferido pisoteado destroçado negado olvidado
Porque nós o acossamos ferimos pisoteamos destroçamos negamos olvidamos
Este amor íntegro
Ainda tão vivo 
E pleno de sol
É o teu
É o meu
O que foi
Este algo sempre novo
E que não mudou
Tão verdadeiro como uma planta
Tão trémulo como um pássaro
Tão quente tão vivo como o verão
Ambos podemos 
Ir e vir
Esquecer
E depois voltar a adormecer
Acordar sofrer envelhecer
Adormecer mais uma vez
Sonhar com a morte
Acordar sorrir e rir
E rejuvenescer
O nosso amor permanece
Teimoso como uma mula
Vivo como o desejo
Cruel como a memória
Absurdo como o arrependimento
Terno como as recordações
Frio como o mármore
Belo como o dia
Frágil como uma criança
Olha-nos sorrindo
E fala connosco sem nada dizer
E eu oiço-o tremendo
E grito
Grito por ti
Grito por mim
Suplico-te
Por ti por mim por todos os que se amam
E os que se amaram
Sim  grito-lhe
Por ti por mim e por todos os outros
Os que não conheço
Fica
Não te mexas
Não te vás
Nós que nos amámos
Esquecemos-te
Tu não nos esqueças
Só te tínhamos a ti no mundo
Não permitas que nos tornemos indiferentes
Cada vez mais longe
E onde  quer que estejas
Dá-nos um sinal
Muito mais tarde num recanto de um bosque
Na floresta da memória
Surge de repente
Estende-nos a mão
E salva-nos.

 

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