Dia da Língua Materna 2017
Mudar de país, de vida, de língua ou de norma nem sempre é fácil.
No dia em que comemoramos a língua materna pedimos aos nossos leitores para partilharem as suas histórias. Deixamos aqui o testemunho do Rafael a quem agradecemos a franqueza.
Nota: O Rafael usa a norma do português do Brasil.
“Aqui se inicia mais uma etapa em minha vida, “22 de janeiro de 2016”.
A minha mãe veio para Portugal em busca de uma vida melhor e me deixou com 14 anos de idade no Brasil, com meu pai, mas prometeu que, em um ano, me traria com ela para Portugal.
Assim aconteceu, elo conheceu o Vítor, se casaram e foram ao Brasil me buscar. No início resisti um pouco, pois tinha dúvida se era o que eu queria, mas por fim decidi vir com eles. A partir daí abri mão de toda a minha vida, família e amigos no Brasil. Tinha que recomeçar do zero em Portugal. Tive dificuldades na escola, na língua e em fazer amigos. Achava tudo estranho: as pessoas, a escola, até a comida. Pensei até em voltar para o Brasil, pois me sentia um estranho em outro país, isso me desanimava, mas eles nunca me deixaram desistir, diziam que no início seria assim, mas que logo me acostumava . Não gostava da escola, achava tudo ruim, faltava às aulas, perdi o ano por isso, até porque cheguei atrasado, não conseguia perceber os professores, nem eles a mim. Foi difícil se esforçaram para me ajudar, eu não aceitava, tinha reforço e não ia por vergonha, não comia na escola, fiquei mais de uma semana sem almoçar, constrangido, perguntavam porque eu não ia comer, dizia que não tinha fome.
O tempo foi passando, fiz amigos, me adaptei à escola, respeito os professores, consigo percebê-los melhor e eles a mim. Também vejo hoje o quanto me queriam ajudar e eu recusava. Hoje participo mais das aulas, consigo fazer tarefas da escola, me empenho mais e pretendo dar o melhor de mim, pois o meu futuro, não só em Portugal, mas sim no mundo, só depende de mim e da minha dedicação.
Sinto falta do meu país, dos meus amigos, porém já me adaptei e não penso morar agora no Brasil.
Assim que puder vou visitar minha família e amigos. Me sinto seguro e acolhido aqui, gosto do Faial, aqui tenho paz e liberdade que não teria no meu país.
Foram muitos acontecimentos até chegar aqui, porém os resumi em poucas linhas, sem deixar de agradecer pela oportunidade, primeiro, a Deus e a todos os que me ajudaram até aqui.