Dia Mundial do Teatro – 2017

O grupo de teatro “Sortes à Ventura” é o parceiro da biblioteca nesta iniciativa, descubram o que têm andado a fazer.

“Da Boca p’ra Fora”: resposta dos jovens às máscaras do quotidiano

O Clube de Teatro “Sortes à Ventura” da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA) da Horta, demonstrou que, na ilha do Faial, a arte de Molière vai bem e recomenda-se. Ana Raquel, André Costa, André Oliveira, Beatriz Brilhante, Cristina Dabó, Ella Stattmiller, Jandira Pedrosa, Marta Cardoso, Mónica Fatia e Pedro Pacheco, disseram “Da Boca p’ra Fora”, aquilo que lhes vai na alma, enquanto jovens. Durante 45 minutos, muito bem passados no Teatro Faialense, o grupo pretendeu “questionar e denunciar as máscaras do quotidiano, o mundo da droga, o cyberbullying, a religião, o racismo, a alienação e a homofobia, entre outras chagas sociais”.

Foi com grande à vontade que estes actores interpretaram os textos que eles próprios escreveram e que falam “dos sonhos, dúvidas, angústias, desejos e frustrações da juventude dos nossos dias”, tendo como ponto de partida o poema “Desiderata”, de autor anónimo inglês, do século XIX.

“Perante o desconcerto do mundo”, que nos obriga à vivência de “tempos de grandes incertezas, perplexidades e dissonâncias, com guerra, intolerância, descalabro económico e financeiro, crise humanitária e muitas outras formas de fanatismo que resultam de uma ausência e de uma crise de valores”, estes jovens manifestam-se “saturados da linguagem pragmática do social, do económico e do político”. E a resposta de cada um chega até nós através de uma sequência de variados quadros soltos mas, ao mesmo tempo, interligados. A mensagem é transmitida de forma jovial, leve, engraçada, mas profunda. A linguagem corporal, com gestos, atitudes, expressões, transmite tanto ou mais do que as palavras e completa na perfeição aquilo que eles disseram da boca p’ra fora, mas com muito significado.

São amadores entre os 16 e os 18 anos, mas revelam que o palco é seu. Apresentam-se desinibidos, simples como é próprio da idade, mas encaram o público de frente e comprovam que o “Sortes à Ventura” constitui “uma verdadeira escola de representação”, na estrada há quase três décadas. Sem dúvida, que estes dez actores se orgulham de dar corpo “ao grupo de teatro de escola com maior longevidade a nível nacional”.

Sente-se que vibram com a arte de Talma e a sua atitude em palco é compreendida e reconhecida pela assistência, que aplaude e elogia, que ri, sorri e se diverte, num agradável serão cultural.

Isso aconteceu esta sexta-feira, dia 17, no Faial, mas já antes se tinha verificado em São Miguel, onde o “Sortes à Ventura” esteve nos dias 8, 9 e 10 do corrente, a representar a ESMA no VIII Encontro Regional de Grupos Escolares de Expressão Dramática, organizado pela Escola Secundária da Lagoa. No papel de visitantes, os faialenses foram aplaudidos de pé e o seu desempenho constituiu “um assinalável êxito”. Fora do palco, também há sucessos, compostos por “inesquecíveis momentos de formação, convívio, troca de experiências e afectos”. Sim, porque de tudo isso é feito um actor e estes deixaram o público com vontade de continuar por mais 45 minutos, prolongando o deleite da representação. Conseguiram uma simbiose perfeita com a (numerosa) assistência e mostraram que a palavra é uma arma e o teatro uma arte capaz de seduzir, atingir e provocar mudanças. Sendo amadores, comportaram-se como profissionais, honrando os pergaminhos teatrais do Faial e fazendo com que o presente também possa figurar na galeria das glórias pretéritas.

Eles, os intérpretes, estão de parabéns, assim como o seu mestre. Eles, a nova geração de actores, brilharam num cenário intencionalmente minimalista, primando pela quase inexistência de adereços, num constante entra e sai de cena, jogando com as palavras do quotidiano corriqueiro, brincando e/ou ironizando com os episódios dos nossos dias, ditos modernos, onde tudo parece ser como o teatro: efémero.

“Da Boca p’ra Fora” – com encenação, direcção de actores e selecção musical de Victor Rui Dores – constitui a 44ª peça representada até hoje pelo Clube de Teatro “Sortes à Ventura”, que no próximo mês de Maio completa 29 anos de actividade ininterrupta. No Dia da Escola – 15 de Maio – será estreada a nova peça intitulada “Se perguntarem por mim, não estou”, de Mário de Carvalho, com adaptação e encenação de Victor Rui Dores.

Mesmo constituindo uma actividade extra-curricular, a verdade é que o Clube de Teatro da Escola Secundária Manuel de Arriaga, da Horta, cativa a malta que usa o Auditório para ensaiar e faz com que o “Sortes à Ventura” consiga apresentar, em média, um novo trabalho por cada ano lectivo que passa, e alguns dos seus actores se evidenciem no (futuro) mundo profissional.

O professor de teatro do Liceu da Horta – um jovem com 30 anos quando começou esta aventura – considera que o teatro lhe dá “alegrias breves e angústias prolongadas”, sendo compensado “pelo rejuvenescimento de trabalhar com os jovens”, com quem aprende “muito”, porque o teatro é isso mesmo: “uma troca de experiências e de vivências, um espaço de aprendizagem, um modo de exprimir sentimentos, emoções e estados de alma”.

Recorde-se que o Clube de Teatro “Sortes à Ventura” integra alunos do 3º ciclo e do ensino secundário. Foi criado em 1988, pela professora Maria do Céu Brito, a que se juntaram os docentes Fátima Ribeiro, Pedro Monteiro e Victor Rui Dores, com o objectivo de “motivar os alunos para o teatro e apresentar trabalhos cénicos”. Desde então, tem vindo a apresentar espectáculos dentro e fora da Escola, sendo seu responsável, desde 1994, o professor Victor Rui Dores.

(…)Cristina Silveira

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