Crise existencial da adolescência

Num tempo em que tantos de vocês pedem ajuda para fazer escolhas uma palavrinha de uma aluna do 11º ano.

“Sou um barco. Um barquinho à vela sujeito ao mundo e em constante alteração e renovação. Vou mudando em função dos sítios por onde passo e das condições à minha volta. Tira tábua, põe tábua. Cose a vela, rompe a vela. Pinta o casco e volta a pintar. O que é facto é que tudo muda em frações de segundo, numa luta constante por não quebrar esta fidelidade utópica para com um mundo que nos criou e nos põe constantemente à prova. Sou eu um barco e são todos os outros milhões de adolescentes que pisam diariamente este nosso planeta e que enfrentam a tão temida crise existencial.

                  Em cada local onde o barco para entram passageiros. Cada porto fica, evidentemente, registado no diário de bordo, mas o que marca, muda e realmente contribui para definição do barco como pessoa que é, são os passageiros, o conhecimento na sua forma mais próxima. São os passageiros que dão a volta ao barco, que o exploram de uma ponta à outra, que deixam as suas pegadas firmes num chão ainda trémulo.

                  Parando o barco, por exemplo, na tão frequente Terra do Amor, os passageiros que entram são inúmeros. Entram a Sra. Felicidade e a Menina Cedência, mas entram também a Dona Insegurança e a família Ciúme. É comum estes dois últimos provocarem algum desacato na vida diária a bordo, mas, felizmente, a Sra. Felicidade e a Menina Cedência tentam pôr voz firme para que, em registo oficial, a Terra do Amor fique imortalizada como um sítio em paz, cheio de energias positivas.

                  Nos períodos do mar também são muitas as tábuas desta casquinha de noz que acabam por ser substituídas. Por um lado, há os fortes momentos de tempestade, períodos de discussão, de solidão imensa. Estes são os momentos mais propensos para testar limites, ver até onde conseguimos esticar a corda, conhecer os pontos fortes e aqueles cabos mais fraquinhos, numa ameaça permanente de rutura.

                  Por outro lado, períodos de mar chão e vento nulo, sem pressões nem velas tensas, ajudam a tornar mais transparente o mar de desejos, de ambições e de sonhos sobre o qual o barco flutua.

                  Este barquinho à vela, passageiro influente no rodopio humano, não é tão estável como uma casa nem tão veloz como um avião. Está em permanente mudança e a indecisão, a inquietude e a instabilidade são fatores permanentes, encaminhando-nos invariavelmente para a preponderante questão do “Quem sou eu?”.

                  Sendo esta metamorfose necessária, pode ser, por vezes, dura e até um pouco cruel. Por todas estas razões creio que cabe àqueles que já desembarcaram do barquinho da adolescência, que já conhecem a estabilidade da casa e a velocidade do avião, ajudar na definição de um rumo o mais calmo, feliz e bem sucedido possível.”

 

Júlia Branco, 11ºB

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